terça-feira, 2 de março de 2010

Alemanha investiga 100 denúncias de abusos em colégios católicos

A promotoria alemã abriu pela primeira vez processos de investigação sobre denúncias de abuso sexual em colégios e internatos da Igreja Católica. O maior escândalo do pós-guerra em colégios da Igreja Católica do país começou no mês passado, depois de mais de 40 denúncias de abuso sexual apresentadas por ex-alunos do Colégio Canisius, um internato de elite gerido por jesuítas. Segundo a advogada Ursula Raue, contratada pela Igreja Católica para investigar os casos, há mais de cem denúncias em toda a Alemanha.

No internato investigado, o diretor, abade Barnabas Boegle, foi forçado a renunciar, acusado de não ter informado à direção da Ordem a existência de casos de abuso nos últimos anos. Desde 2005, a Igreja Católica obriga os diretores a informar quando há denúncias. Mas essa regra não foi seguida por nenhum dos vários estabelecimentos de educação, colégios e internatos católicos espalhados pela Alemanha.

Em Berlim, a promotoria ainda julga se haverá ou não uma investigação oficial, porque muitos dos cerca de 40 casos registrados ocorreram entre 1975 e 1983, já tendo caducado. Um dos dois principais acusados, padre Wolfgang S., teria abusado de crianças e adolescentes também em estabelecimentos jesuítas de Hamburgo, no sul da Alemanha, além de em instituições da Espanha e do Chile mantidas por jesuítas alemães.

Wolfgang S. teria confessado tudo aos seus superiores ao se desvincular da ordem em 1992. Mas o caso foi abafado para não manchar a imagem do colégio berlinense, considerado de elite, e da ordem dos jesuítas.

Declaração do Papa sobre Irlanda detonou apuração

Para o padre Klaus Mertes, atual diretor do Colégio Canisius, os casos conhecidos recentemente em toda a Alemanha são apenas a "ponta do iceberg" porque o número real deve ser muito maior.

Apesar da determinação de que as denúncias sejam reportadas, as investigações só começaram na prática há cerca de duas semanas, depois que o Papa Bento XVI acusou os bispos irlandeses de terem "fracassado" por uma série de casos de abusos de crianças.

O país foi palco do maior escândalo de abuso sexual na Igreja Católica, quando um padre confessou ter explorado sexualmente cem menores, enquanto outro admitiu ter praticado o delito contra crianças e adolescentes durante 25 anos.

Em entrevista a um jornal berlinense, o padre Mertes acusou a Igreja Católica de não combater devidamente tal tipo de delito, por tratar a sexualidade como um tabu.

- Não se fala sobre o homossexualismo. Os padres que têm essa tendência sentem-se bastante inseguros pois não podem admitir o que são.

Miguel Abrantes Ostrowski, ex-aluno do Colégio Aloisius de Bonn, diz que mesmo para as vítimas é muito difícil uma definição se houve ou não exploração sexual. Ostrowski, que tem hoje 37 anos e trabalha atualmente como ator no Teatro Maxim Gorki de Berlim, escreveu já em 2004 sobre o seu trauma como vítima de dois padres do colégio de Bonn.

Ele tinha 11 anos quando ingressou no internato. Segundo ele, não havia violência. Os dois gostavam de fotografar os alunos nus ou acompanhá-los durante o banho.

- Só muito mais tarde pude concluir que havia ali algo muito errado - disse Ostrowski.

O bispo Hans Jochen Jasckke, de Hamburgo, rebate críticas ao celibato dizendo que esta não é a causa do delito. Ele defende o celibato ao afirmar que os casos de abuso sexual, embora graves, são praticados por uma minoria insignificante de religiosos. Os padres, na sua maioria, aprenderiam a conviver com a sua sexualidade, sem renegá-la, através da "sublimação", da transformação do impulso sexual em algo criativo e produtivo, completa.

Fonte: O Imparcial

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